sexta-feira, 27 de julho de 2012

+ piolho

Pensamento desatado,
Sinais de intemperança e de gadanho afiado,
[Piolho incarnado e alimentado]
De indecências e de mundo desacomodado,

A hora furtiva e vadia:
Dizia que ia, que mania!

                      Pobre de sim!
É pão: dia sim, dia não. Eu estou sempre em dia não.
E quando não estou, estou em dia sim.
Pobre de não!
           É pão: dia sim, dia não. Tu estás sempre em dia sim.
                                                            E quando não estás, estás em dia não.

(morro todos os dias e todos os dias revivo)

Ó + piolho!
De humores contraditórios:
És biótico, és antibiótico,

És Eros, és Tanathos!

De tão pequeno, de tão atrevido, de tão ignorado:
Que de ti se não tem notícia,
Se o contrário de ti não resultar!

 [Para que serves?] Se vives a vadiar?

[O que tens feito?] Se moras em forasteiro lar?

[O que sabes fazer?] Se confias para jantar?

Sei pensar.

Sei querer.

Sei esperar

 A tua exterioridade rouba-me! E que mais?

Sei pensar.

Sei querer.

Sei esperar.


Eh-lá-lá!
Pressinto-te, adivinho-te, desejo-te…

Ahá! Sente a minha dentada!
A minha interioridade poupa-me!

 [Para que serves?] Se vives a vadiar?

[O que tens feito?] Se moras em forasteiro lar?

[O que sabes fazer?] Se confias para jantar?


Sei sonhar.

Sei ser.

Sei esperar.

A tua exterioridade rouba-me! E que mais?

Sei sonhar.

Sei ser.

Sei esperar.

Eh-lá-lá!
Vives num estranho universo. Segues uma estranha sorte. Trabalhas no meio de um estranho rebanho.
Pergunto-te, ensimesmado e sisudo: para que serve isso tudo?

Onde estou? Onde hei-de estar? Não sei.
É o que dá sonhar da frente para trás!
É o que dá pensar da frente para trás:

Às arrecuas.

Podes usar-me, tímido talvez, enterrado até.
Mas desperto, depois de desacordado.

Como lixo:
Curvados de miséria,
Despidos de alma,
Apagados de voz,
Expropriados de liberdade: simplesmente, eu e tu!

Que a estrada é comprida, ademais estreita: não cabem lá muitos, disseste-me!
Que levasse em mim um + piolho, disseste-me!
Sustentado e feliz, disseste-me!

Nunca disse tal coisa!
Fraca cabeça a tua que só funciona da frente para trás. Não consegues pensar em coisa nenhuma antes de as ver. Só vendo, dizes tu!

Que ironia!
E eu, de idioteira a esmo, protesto contigo.
Meu amigo inseparável, agora único.

(não devemos ter um amigo, mas muitos amigos, dizes tu!)

Porém, só devemos ter um + piolho. 
[+ piolho – menos igual a + piolho
              + piolho + piolho igual a + piolho
                                   - piolho – piolho igual a menos mais (piolho) menos igual a + piolho]

                                                                                                 Só devemos ter um + piolho.

O silêncio ou a solidão ou a tristeza ou a morte
[que afugentas]
É o ninho do teu íntimo.
Sem o teu cantinho interior
Não existes como Homem: vegetas!



Bebo:
        Cada palavra tua.

     Cada frase tua.

       Cada ideia tua.

Como uma taça de vinho cor-de-sangue.
Agora sim!
Relaxo.
Sou emotivo e sensível aos meus apetites.

Mais: sou escravo dos meus apetites.
                                               Vivo com eles e para eles.
Dou-me a eles.
E sou tão feliz! E nunca me senti tão livreeeee!



Ahá! A liberdade… O que é, para ti, a liberdade?

É cada um fazer aquilo que lhe apetece?

Acaso tens o mundo inteiro adentro de ti?

Dominar o agir, não te faz o apetite fugir:
Cumprir o dever, não te faz a firmeza morrer.
Assumir o encargo, não te faz amargo. 

Ó Homem, sê verdadeiramente livre: emancipa-te! Revolta-te!

Recusa a opressão dos apetites: Sente o prazer de deles fazer
A ferramenta do teu querer.



Para nós, homens
Tudo tem de ser útil, prestável, rentável:
Se não for...

                                                                Deite-se fora!

A mim ninguém compra:
Não há lojas de piolhos.

O Homem acha-me inútil.
Mata-me, insulta-me, humilha-me. Chama-me parasita.


E admiras-te?

[Para que serves?] Se vives a vadiar?

[O que tens feito?] Se moras em forasteiro lar?

[O que sabes fazer?] Se confias para jantar?



Sei ganhar.

Sei perder.


Sei esperar.


 A tua exterioridade rouba-me! E que mais?


Sei ganhar.

Sei perder.

Sei esperar.


O anel de diamante,
É só para um,
Só dá para um

É um caso de vida ou morte!
Não te quero maldito + piolho.

O mundo é imenso
Dá para os dois:
Deixa-te ficar com o anel.



Generoso piolho
Essa vontade é sinal da tua fraqueza.
Hesitas,
Mas não me enganas.

Que temos a perder?
Atrás deixamos o mundo,
Submerso em indecisões e confusões e fraquezas:
A estrada é clara e concreta e concisa.
Só o fim é um mistério. E isso
Torna-a [vida] tão bela!





Não devemos ter um sonho,
Mas muitos sonhos;

Não devemos ter um interesse,
Mas muitos interesses;

Não devemos ter uma vida,
Mas muitas vidas:

Se tiver de dar um passo atrás,
Mais tarde, darei muitos em frente.


Isso é Ir sem saber onde chegar!
É o sonho maior que rebenta de grande.

Louco!
Sabe bem não ver o piolho.

Deixá-lo, ignorá-lo.
Maldito: que te percas no fim do infinito!

Tenho dito!

Nós por cá
Seguiremos
À procura de algo mais, algo mais, algo mais...

Sonhado sejas piolho:

A tua voz imperdível perde-se na excepção da incompreensão.



E eu que pensava:

Que nada eras!,

Que nada sabias!,

Que nada sonhavas!,

Que nada podias…



Apenas, um piolho admirável.

                                                                   Leva-me contigo e nunca me pentearei.



O que nos parece longe e inalcançável,
O que não nos toca hoje,
O que houvermos de perder,
O que os outros não pensam,
O que não acharmos,

Tudo isso

Será um pensamento ridículo ou uma ideia Ignorada.

A vida não pode medrar para cima
Sem prosperar para baixo!

E é importante percebermos que as folhas Secas caem naturalmente,

Caem simplesmente…

Fixemo-nos ao lado do que dói e queima. E Um dia

Esqueceremos a entrada dos nossos esconderijos!


Se na morte vence a vida;

Se na vida vence a vida;

                                               No fim vence a vida.


Iupiiii: viva a vida!
Leva-me contigo e nunca me pentearei.

manuel moraes || 25.07.2012