sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ôhá-ôhé gente

Ôhá-ôhé:

Gente (sou) multiplicada ao sombrio recanto,

Aramada,

Aquém da contínua cortina farpada;

Como zero sobrevive,

E como zero acabará!



[de rosto impassível, varrendo com mesuras o pó concedido pelas botas lustradas]



Ôhá-ôhé:

Gente (sou) diminuída ao sombrio recanto,

Trevas… ôhé-ôhé-ôhé,

Trevas… ôhé-ôhé-ôhé,

Como zero sobrevive,

E como zero acabará!



[de rosto melífluo, servindo, por vintém, como lacaio de libré alguém todo-poderoso]



Ôhá-ôhé:

Gente (sou) somada ao sombrio recanto,

Opressa,

De mão à copiada palavra professa;

Como zero sobrevive,

E como zero acabará!



[de rosto inominado, inautêntica, vendo nada, sabendo nada, sentindo nada]



Ôhá-ôhé:

Gente (sou) dividida ao sombrio recanto,

A tortura… ôhé-ôhé-ôhé,

A tortura… ôhé-ôhé-ôhé,

Como zero sobrevive,

E como zero acabará!



Ôhá-ôhé:

Gente ensombrecida,

Olhando para nada

(enobrecida);

Calando a voz por nada

(esquecida);

Pensando a troco de nada

(empobrecido).



Como zero sobrevive,

E como zero acabará!





manuel moraes || 09.08.15




quarta-feira, 8 de junho de 2011

Quanta fome...

Numa noite fria

Olhei em volta

E vi alguém deitado no chão.

Não vi Homem, não vi pessoa!



Vi uma nódoa branca

Colada ao corpo que sofria.

A fome nos seus olhos encovados e tristes e frágeis.

Olhos que brilhavam como estrelas doces e dóceis,

Em rostos cheios de ausência luminosa…



E pensei

E achei belos

Os seus rostos, os seus sorrisos…



Como são dignas

As crianças e os velhos e as mulheres!



Quem tem fome sequer sobrevive.

Quem tem fome definha e sofre.

Quem tem fome vive morrendo e morre!





A nódoa branca, essa não.

Não sente ternura ou compaixão,

Não escolhe raça ou religião,

Não mostra vergonha ou razão…



Quanto ao resto, que fazer?

Cinismo? Cepticismo? Indiferença?

Não!!!!



Acenda-se a luz!

Basta um clique…



Haja amor entre os Homens

E a nódoa branca,

Sombria e ardente e infeliz,

Será pó, cinza e nada!

Basta um simples gesto

Zzzzzzzzzzzzzzzzzzztttttt!

E fome jamais!





(manuel moraes) || 2010-11-11

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Apenas lágrimas

Quanta vez chorei

        (de cor não as sei)

        Lágrimas de amor.


        Quanta vez prenhe de dor!

        Caíram de mim, delicadas

        E de maneira menina acanhadas...


        Tão-somente,

        De mim fizeram gente!





(manuel moraes) || 2011-06-01