Sinais de intemperança e de
gadanho afiado,
[Piolho incarnado e
alimentado]
De indecências e de mundo desacomodado,
A hora furtiva e vadia:
Dizia que ia, que mania!
Pobre de sim!
É pão:
dia sim, dia não. Eu estou sempre em dia não.
E
quando não estou, estou em dia sim.
Pobre
de não!
É pão: dia sim, dia não. Tu estás sempre em
dia sim.
E
quando não estás, estás em dia não.
(morro todos os dias e todos
os dias revivo)
Ó + piolho!
De humores contraditórios:
És biótico, és antibiótico,
És Eros,
és Tanathos!
De tão pequeno, de tão
atrevido, de tão ignorado:
Que de ti se não tem notícia,
Se o contrário de ti não
resultar!
[Para que serves?] Se vives a vadiar?
[O que tens feito?] Se moras
em forasteiro lar?
[O
que sabes fazer?] Se confias para jantar?
Sei pensar.
Sei querer.
Sei esperar
A tua exterioridade rouba-me! E que mais?
Sei pensar.
Sei querer.
Sei esperar.
Eh-lá-lá!
Pressinto-te, adivinho-te, desejo-te…
Ahá!
Sente a minha dentada!
A minha interioridade poupa-me!
[Para
que serves?] Se vives a vadiar?
[O
que tens feito?] Se moras em forasteiro lar?
[O
que sabes fazer?] Se confias para jantar?
Sei sonhar.
Sei ser.
Sei esperar.
A tua exterioridade
rouba-me! E que mais?
Sei sonhar.
Sei ser.
Sei esperar.
Eh-lá-lá!
Vives num estranho universo. Segues uma
estranha sorte. Trabalhas no meio de um estranho rebanho.
Pergunto-te, ensimesmado e
sisudo: para que serve isso tudo?
Onde estou? Onde hei-de
estar? Não sei.
É o que dá sonhar da frente
para trás!
É
o que dá pensar da frente para trás:
Às arrecuas.
Podes
usar-me, tímido talvez, enterrado até.
Mas
desperto, depois de desacordado.
Como lixo:
Curvados de miséria,
Despidos de alma,
Apagados de voz,
Expropriados de liberdade: simplesmente,
eu e tu!
Que a estrada é comprida,
ademais estreita: não cabem lá muitos, disseste-me!
Que levasse em mim um +
piolho, disseste-me!
Sustentado e feliz,
disseste-me!
Nunca
disse tal coisa!
Fraca
cabeça a tua que só funciona da frente para trás. Não consegues pensar em coisa nenhuma
antes de as ver. Só vendo, dizes tu!
Que ironia!
E eu, de idioteira a esmo,
protesto contigo.
Meu amigo inseparável, agora
único.
(não
devemos ter um amigo, mas muitos amigos, dizes tu!)
Porém, só devemos ter um + piolho.
[+ piolho – menos igual a + piolho+ piolho + piolho igual a + piolho
- piolho – piolho igual a menos mais (piolho) menos igual a + piolho]
Só devemos ter um + piolho.
O silêncio ou a solidão ou a tristeza ou
a morte
[que afugentas]
É o ninho do teu íntimo.
Sem o teu cantinho interior
Não existes como Homem: vegetas!
Bebo:
Cada palavra tua.
Cada
frase tua.
Cada
ideia tua.
Como uma taça de vinho
cor-de-sangue.
Agora sim!
Relaxo.
Sou emotivo e sensível aos meus
apetites.
Mais:
sou escravo dos meus apetites.
Vivo
com eles e para eles.
Dou-me
a eles.
E
sou tão feliz! E nunca me senti tão livreeeee!
Ahá! A liberdade… O
que é, para ti, a liberdade?
É cada um fazer aquilo que
lhe apetece?
Acaso
tens o mundo inteiro adentro de ti?
Dominar o agir, não te faz o
apetite fugir:
Cumprir o dever, não te faz
a firmeza morrer.
Assumir o encargo, não te
faz amargo.
Ó
Homem, sê verdadeiramente livre: emancipa-te! Revolta-te!
Recusa a opressão dos
apetites: Sente o prazer de deles fazer
A ferramenta do teu querer.
Para nós, homens
Tudo
tem de ser útil, prestável, rentável:
Se
não for...
Deite-se fora!
A
mim ninguém compra:
Não
há lojas de piolhos.
O
Homem acha-me inútil.
Mata-me,
insulta-me, humilha-me. Chama-me parasita.
E admiras-te?
[Para
que serves?] Se vives a vadiar?
[O que tens feito?] Se moras em forasteiro
lar?
[O que sabes fazer?] Se confias para jantar?
Sei ganhar.
Sei perder.
Sei esperar.
A tua exterioridade rouba-me! E que mais?
Sei ganhar.
Sei perder.
Sei esperar.
O anel de diamante,
É só para um,
Só
dá para um
É um caso de vida ou morte!
Não te quero maldito + piolho.
O mundo é imenso
Dá para os dois:
Deixa-te ficar com o anel.
Generoso piolho
Essa vontade é sinal da tua
fraqueza.
Hesitas,
Mas não me enganas.
Que temos a perder?
Atrás deixamos o mundo,
Submerso em indecisões e confusões e
fraquezas:
A estrada é clara e concreta e concisa.
Só o fim é um mistério. E isso
Torna-a [vida] tão bela!
Não
devemos ter um sonho,
Mas
muitos sonhos;
Não devemos ter um interesse,
Mas muitos interesses;
Não devemos ter uma vida,
Mas muitas vidas:
Se
tiver de dar um passo atrás,
Mais
tarde, darei muitos em frente.
Isso é Ir sem saber onde
chegar!
É o
sonho maior que rebenta de grande.
Louco!
Sabe bem não ver o piolho.
Deixá-lo, ignorá-lo.
Maldito:
que te percas no fim do infinito!
Tenho
dito!
Nós
por cá
Seguiremos
À
procura de algo mais, algo mais, algo mais...
Sonhado sejas piolho:
A
tua voz imperdível perde-se na excepção da incompreensão.
E eu que pensava:
Que
nada eras!,
Que
nada sabias!,
Que
nada sonhavas!,
Que
nada podias…
Apenas, um piolho admirável.
Leva-me contigo e nunca me
pentearei.
O
que nos parece longe e inalcançável,
O
que não nos toca hoje,
O
que houvermos de perder,
O
que os outros não pensam,
O
que não acharmos,
Tudo
isso
Será um pensamento ridículo
ou uma ideia Ignorada.
A vida não pode medrar para
cima
Sem prosperar para baixo!
E é importante percebermos
que as folhas Secas caem naturalmente,
Caem simplesmente…
Fixemo-nos ao lado do que
dói e queima. E Um
dia
Esqueceremos a entrada dos nossos
esconderijos!
Se na morte vence a vida;
Se na vida vence a vida;
No fim vence a vida.
Iupiiii: viva a vida!
Leva-me
contigo e nunca me pentearei.
manuel moraes || 25.07.2012
Gostei bastante deste + Piolho! Acho que se tivesse um, nunca mais me pentearia :)
ResponderEliminarGrande poema, em todos os sentidos! *
Hoje consegui despir o olhar de outros dias, trazer de volta o que vi em tempos passados, e ainda bem, finalmente entendi percebi, talvez não a mensagem a transmitir, mas a que se enquadra no novo olhar do passado
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